A dinâmica de honra e vergonha

Excerto do livro Herege, de Ayaan Hirsi Ali.   30/06/2015

Entre as características mais cruciais do sistema tribal institucionalizado pelo islã está o conceito de honra. Ele requer uma explicação pormenorizada para os leitores ocidentais, cuja compreensão de termos como “família” e “honra” é fundamentalmente diferente. A estrutura familiar que devemos ter em mente é a de uma família extensa (o clã), cujos integrantes aumentam por meio de práticas como a poligamia e o casamento de crianças. Fazendo os meninos se casarem já aos quinze ou dezesseis anos, o espaço entre as gerações diminui e o número de descendentes cresce. Esse tipo de família assemelha-se muito a uma antiga árvore talal, que possui uma raiz principal profunda, um tronco robusto e uma infinidade de ramos. Folhas nascem, crescem e caem, ramos podem ser cortados, outros tomam seu lugar, mas a árvore permanece. Cada um de seus componentes é dispensável, porém não a árvore. Esse é o “valor familiar” mais importante incutido nas crianças. O indivíduo quase não conta nesse esquema.

Cada pessoa do grupo familiar tem valor para a tribo como um todo, mas certos membros são mais valiosos do que outros: homens jovens capazes de ir para a guerra defender sua família são mais úteis do que moças ou mulheres velhas. Moças núbeis são mais valorizadas do que mulheres mais velhas, pois são necessárias para gerar filhos homens, além de poderem ser trocadas. O pior pesadelo de uma família é ser desarraigada e destruída. Considerando todas as possibilidades de destruição, quanto mais um grupo familiar sobrevive, mais forte ele é. As famílias orgulham-se de sua história de resistência, transmitidas às novas gerações por repetidas histórias e poemas sobre linhagem.

Foi esse orgulho que fez minha avó me ensinar a recitar minha ascendência ao longo de muitas gerações e centenas de anos. Ela deixou claro que era dever dos jovens não só desfrutar a glória herdada de seus ancestrais, mas também mantê-la acima de tudo, ainda que isso possa lhes custar seus bens ou sua vida. Também me ensinaram a ver qualquer um que não pertencesse à minha linhagem com extrema desconfiança.

Antes da fundação do Islã, as várias famílias da Arábia colaboravam e também competiam umas com as outras através de uma rede de complexas alianças comerciais e matrimoniais, ora aliando-se em batalhas, ora lutando entre si. Nesse mundo, os conflitos dentro do clã precisavam ser debelados o mais depressa possível a fim de preservar a imagem de força; lutas internas acarretariam a percepção de fraqueza e tornariam o clã vulnerável a ataques. A honra era de suma importância. Quem insultasse ou humilhasse a linhagem tinha de ser punido. Se um homem matasse outro, por exemplo, a vingança tinha de ser não apenas contra o autor da morte, mas contra toda a família dele.

Desde o estudo de Ruth Benedict sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial, os antropólogos fazem distinção entre as culturas da vergonha e as culturas da culpa. Nas primeiras, a ordem social é mantida inculcando-se um senso de honra e vergonha no grupo. Se o comportamento de um indivíduo traz descrédito à família, ela pode puni-lo ou até expulsá-lo. Nas culturas da culpa, em contraste, ensina-se à pessoa a disciplinar a si mesma por meio de sua própria consciência – às vezes com a ajuda da ameaça de punição após a morte. A maioria das sociedades ocidentais passou, no decorrer de mil anos, por uma transformação da vergonha a culpa, processo que coincidiu com a gradual divisão das estruturas familiares. Os europeus viveram um demorado processo de destribalização que passou pela sujeição ao direito romano, a conversão ao cristianismo, a imposição do governo monárquico ao poder baronial e a ascensão gradual de Estados-nações com seu conceito de cidadania e igualdade perante a lei.

O mundo árabe no qual o Islã triunfou em seus primórdios não passou por transição semelhante. Como escreveu Antony Black em The History of Islamic Political Thought, “Maomé criou um novo monoteísmo adequado às necessidades contemporâneas da sociedade tribal”. O efeito foi a perpetuação de normas tribais, congelando-as como escritura sagrada. Os árabes puderam ver a si mesmos como “o povo escolhido” com a “missão de converter ou conquistar o mundo”. Segundo Maomé, cada uma das grandes religiões monoteístas era uma ummah – comunidade ou nação definida pela devoção aos ensinamentos de seus respectivo profeta. Os judeus definiam-se como uma ummah por sua devoção ao livro de Moisés; os cristãos eram uma ummah unida pela devoção aos ensinamentos do profeta Jesus. A ummah islâmica, porém, destinava-se a suplantar esses outros grupos. Na ummah, todos os muçulmanos eram irmãos e irmãs. No entanto, essa noção não revogou os laços de parentesco anteriores. Como determina o Alcorão, “segundo o que foi estipulado no livro de Alá, os consanguíneos têm mais direito entre si do que os crentes e os imigrantes” (33:6). Apesar da ascensão de uma identidade religiosa pan-islâmica na qual todos os indivíduos teoricamente se submetem a Alá, o islã, portanto, conservou os elementos da cultura da vergonha.

Desde suas origens como uma nova comunidade de fiéis, o islã teve uma necessidade avassaladora de permanecer unificado, sob o risco de retornar à fragmentação tribal. O primeiro cisma em torno da questão sucessória quase acarretou o colapso da religião. Por isso, no islã a fitna – antagonismo ou discórdia – era vista como fundamentalmente destrutiva. A dissenção era uma forma de traição; a heresia, idem. Esses impulsos individualistas tinham de ser suprimidos para que se preservasse a unidade da comunidade maior. Os que se espantam com a ferocidade das punições islâmicas por dissenção não compreendem a ameaça que o ceticismo e o pensamento crítico supostamente representavam.

No contexto do clã, o comportamento vergonhoso constitui uma traição à linhagem. No contexto islâmico mais amplo, a heresia é uma ameaça comparável, assim como a descrença declarada – apostasia -, sendo ambas puníveis com a morte. Os que traem a fé têm de ser eliminados para que se mantenha a integridade da ummah.

Essa crença no perigo da dissenção teve consequências fundamentais, e talvez a mais importante delas seja a supressão da inovação, do individualismo e do pensamento crítico no mundo muçulmano. O próprio Maomé, na condição de mensageiro de Deus e na de fundador da “supertribo” islâmica, é reverenciado como uma fonte irrepreensível de sabedoria e como um modelo de comportamento para todas as épocas. Questionar sua autoridade em qualquer aspecto é considerado uma afronta inaceitável à honra do próprio islã.

Não fica bem atualmente, em círculos acadêmicos, discutir o legado das estruturas clânicas árabe no desenvolvimento do Islã. É considerado etnocêntrico, quando não orientalista, até mesmo mencionar o assunto. Mas hoje o Oriente Médio e o mundo como um todo estão cada vez mais a mercê de uma combinação das piores características de uma sociedade tribal patriarcal e do islã não reformado. E por causa dos tabus em torno do que não pode ser dito – tabus reforçados pela ameaça de represálias violentas -, somos incapazes de incutir às claras essas questões.

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Sobre a autora: Ayaan Hirsi Ali é uma ex-muçulmana nascida na Somália que se tornou famosa ao publicar uma autobiografia intitulada Infiel- a história de uma mulher que desafiou o Islã. Também é autora de outros livros: A Virgem na Jaula e Nômade. Porém seu mais novo livro chama-se Herege – por que o Islã precisa de uma reforma imediata. Todos os seus livros são publicados no Brasil pela editora Companhia das Letras. Formada em Ciências Políticas, Ayaan Hirsi Ali é a mais notória das pessoas que criticam o Islã e faz frequentes aparições na mídia em todo o mundo.

Uma mulher desobediente

Algumas pessoas pensam que ter uma moral é seguir um conjunto de regras sociais ou religiosas. A escritora de Bangladesh Talisma Nasrin discorda. Mas ser honesta consigo mesma tem trazido para si as maldições de uma fátua (punição islâmica).

Texto de Talisma Nasrin. Para ler o original clique aqui.

Tradução de Khadija Kafir (27/06/2015)

Eu sou uma pessoa desobediente. Eu nunca obedeci aos costumes da sociedade. Eu nunca obedeci às leis do Estado. Rejeitando tudo, de maneira indomável- sempre segui o meu próprio momento. Por esta razão as pessoas têm me criticado. Todo tipo de insultos tem sido feito em meu nome. Por toda a parte em que eu fui vista, nas ruas, nos mercados, nos encontros, nas ocasiões públicas, eu tive pedras atiradas em mim e fui abusada. O governo de Bangladesh moveu uma ação contra mim.

Por que eu não segui as regras da sociedade? A resposta jaz em meu sentir de que o tratamento dados às mulheres na minha cultura é inumano. Mas também é impossível tolerar as leis do Estado e o impróprio tratamento das comunidades minoritárias no meu país. E eu tenho protestado contra a crueldade e a barbaridade através dos meus escritos.

Sempre valorizei a racionalidade. Quando eu tinha 13 anos, minha mãe costumava dizer que eu deveria ficar dentro de casa porque era impróprio para as meninas andarem por aí. Ela costumava me mandar recitar as orações, obedecer ao período de jejum e viver atrás do meu véu. Mas eu não via motivo em seguir tudo aquilo. Só por eu ser menina eu estava condenada a viver na clausura, quando os campos lá fora, e nos rios, os meninos da minha idade brincavam alegremente juntos. Isto era algo que eu não podia aceitar. Eu era desobediente a minha mãe. Eu corria dos quartos da minha casa para o espaço abeto sob os céus e os lindos leitos do rio. As pessoas me chamavam de “a menina desobediente”.

Quando eu cresci meus pais e meus parentes tentaram me casar com alguém que eu nunca vira. Eu disse a eles que nunca aceitaria este tipo de casamento. Toda vez que eu via algumas de minhas jovens amigas sendo forçadas a se casarem com alguém que não conheciam, eu as advertia a serem desobedientes. Eu dizia que tinham que fugir antes do noivado, ou então, quando o Kazi (clérigo) perguntasse a elas se queriam se casar, elas deveriam, na frente de todo mundo apenas dizer não.

É importante desobedecer a costumes sociais como esses. Se algo parece ridículo para o próprio entendimento moral, então por que deve ser seguido cegamente? Eu já vi muita mulher que, apesar de ser abusada pelos maridos, ainda continuam a viver com eles porque se elas realmente o deixassem, elas se tornariam aos olhos da sociedade, mulheres decaídas ou arruinadas. Muitas mulheres pensam que deveriam seguir os costumes da sociedade – elas creem não possuir nem a inteligência nem o julgamento moral necessário para distinguir o certo e o errado, nem têm coragem para fazer isso.

Mas os costumes sociais não são o único problema. Há muitas leis em meu país que restringem a liberdade das mulheres. Por exemplo, os casamentos em Bangladesh são baseados em estipulações religiosas. De acordo com a lei um marido pode ter quatro esposas juntas em uma só casa. Nenhuma mulher quer dividir o marido com três outras mulheres. Ainda assim, a maioria das mulheres é limitada por essa lei religiosa. O tipo de consciência necessária para desobedecer a leis religiosas ainda não foi desenvolvido em Bangladesh como foi em outros países.

Escrevi um romance chamado Vergonha no qual eu descrevo a tortura sofrida pela minoria Hindu e causadas pelas comunidades muçulmanas. O governo baniu o livro. Eles disseram que as razões deles para banir o romance foi que seu significado iria ser mal interpretado pelas duas comunidades e iria causar violência entre eles. Na realidade, o ponto crucial do romance é se opor ao senso comum. Sempre fiz isso em meus escritos.

Mais tarde, meu comentário sobre o texto islâmico – o Alcorão- levou o governo a me acusar de atacar os princípios religiosos. A polícia chegou a me levar para a cadeia, mas porque não seria seguro que eu fosse para a cadeia, eu me tornei uma fugitiva, me escondendo por dois meses. Nunca me rendi.

Os membros religiosos da sociedade quiseram me enforcar e, de acordo com a lei islâmica, anunciaram publicamente que queriam me matar. Por toda a parte do mundo, milhões de pessoas foram a procissões e marchas contra mim. Fizeram greve por minha causa e estipularam um preço para quem desse a eles minha cabeça. Eu era desobediente a ambos, a lei do Islã e a do governo. Eu consegui deixar o país com a ajuda de outras pessoas racionais. Continuei a expressar minhas crenças e ideologias em resposta a regras proibitivas e superstições da minha sociedade. Isto é porque a consciência, o julgamento moral e o entendimento que eu tenho mantido não me permitem se curvar diante de qualquer injustiça ou desigualdade.

Os homens poderosos da sociedade e do Estado me chamaram de traidora porque eu acredito que o Leste de Bengal, que pertence a Bangladesh; e o Oeste de Bengal, que é parte da Índia, deveriam ser um só. Nós partilhamos a mesma língua e cultura. Por que o Oriente e Ocidente deveriam ser separados por esferas religiosas? Na minha visão, Bangladesh deveria ser para os bengalis, não importando se eles fossem muçulmanos, hindus, budistas ou cristãos. Mas em dizer isso eu sou acusada de desmerecer a soberania do meu país.

bandeira-de-bangladesh
bandeira de Bangladesh
bangladesh no mundo
Bangladesh no mundo

De maneira clara, a ética desta sociedade e desse Estado é diferente do meu próprio entendimento de ética. Nas sociedades democráticas toda a estrutura política é baseada no principio de que as pessoas são livres para terem diferentes opiniões políticas. Mas quando um estado se opõe a liberdade de expressão, então o tópico da desobediência emerge. Eu devo seguir a vontade deles como uma coisa sem vontade, como uma vaca, ou uma ovelha, ou eu deveria ser desobediente? Para desobedecer, uma pessoa precisa de um forte senso de moralidade e imensa coragem. Nem todo mundo tem isso. O policiamento do governo transforma a maioria das pessoas em vegetais.

Mas eu acredito que quando a consciência da população e o senso de moralidade não pode mais tolerar a crueldade e a opressão então eles automaticamente se juntam e serão capazes de mudar as leis do governo e da sociedade. Na história mundial, as pessoas sempre se levantaram contra o derramamento de sangue e a violência e fizeram o mundo habitável. A ideologia de Mahatma Gandhi despertou conscientização nas pessoas para se juntar ao movimento contra a discriminação racial pelos brancos da América. O código pessoal de ética o colocou em conflito com as leis do seu país.

Qualquer pessoa que, em face da injustiça, permanece de pé em sua própria crença, corre o risco de punição. Alguns podem ser mortos, outros exilados, mas pelo menos são leais a si mesmos. A história tem mostrado a nós quantas pessoas vivendo sob os nazistas abandonaram sua própria moral individual e matou milhões em campos de concentração. Sua desculpa era a de estar obedecendo a ordens do governo. As polícias de todos os lugares do mundo a quem se ordena que atirem contra pessoas em protestos contra o governo irão oferecer a mesma desculpa: eles abandonam seu próprio senso de certo e errado e levam a cabo tais ordens porque eles acham que é seu dever fazer isso. Aqueles policiais que desobedecem a tais ordens têm que enfrentar a perda de seus empregos, prisões e perseguições pelo resto da vida. Em cada idade tem havido aqueles que abaixaram a cabeça para o regime tirânico e outros que foram expulsos para combatê-la.

Diferentes sociedades têm diferentes morais. Cada padrão moral de sociedade é relativo e depende da situação financeira, estrutura política, religião, educação e cultura. Quem quer que tire sua educação ética somente da religião irá defender qualquer prática inumana daquela religião como boa ou certa. Como indivíduos, nós devemos usar nosso próprio código de ética como vareta orientadora. Em minha opinião, a razão, a inteligência, a consciência e o coração são as qualidades necessárias para adquirir bom entendimento moral. É importante seguir as regras de seu país até um determinado ponto. Mas quando a religião ou o Estado ataca a moral individual de alguém, então é construtivo ser desobediente.

Parece a mim que em muitas partes do mundo é mais fácil protestar do que já foi no passado. A estrutura da sociedade nunca foi fixada, está sempre mudando. Se as pessoas não analisarem a estrutura de suas sociedades ela se torna uma lagoa estagnada. Porque existe um impulso corrente por mudanças, os humanos e suas sociedades estão sempre marchando para frente. O senso econômico, político, moral e social estão aumentando, assim como nossas perspectivas. E a desobediência moralmente inspirada tem um importante papel nesse progresso.

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Sobre a autora: Talisma Nasrin é uma ex-muçulmana lésbica nascida em Bangladesh. Formada em Medicina, Nasrin é mais conhecida no mundo por seus escritos e suas críticas à religião islâmica e sua nefasta influência na opressão das mulheres. Em sua autobiografia, intitulada Amar Meyebela, relata sua sofrida infância e faz críticas a Maomé, o que lhe valeu represálias e proibição de vender o livro. Nasrin se define como humanista secular, e não tem hoje nenhum tipo de crença.

A Jaula das Virgens

Excerto do livro A Virgem na Jaula, de Ayaan Hirsi Ali. Capítulo 3 – A jaula das virgens.

Tradução e adaptação Khadija Kafir

(…)

Os problemas como agressão, estagnação econômica e científica, repressão, epidemias e insatisfação social, que são enfrentados pela maior parte dos 1,2 bilhão de muçulmanos espalhados pelos cinco continentes não podem ser explicados por apenas uma ou duas causas. Uma complexa combinação de fatores, algumas vezes regionais, evoluiu ao longo do tempo. Entre eles está a moral sexual islâmica, uma moralidade de origem tribal, alçada à condição de dogma do islamismo. Essa explicação é rara na literatura existente. Essa moralidade pré-moderna foi sancionada no Alcorão e, posteriormente, desenvolvida nas tradições do profeta Maomé. Para muitos muçulmanos, essa moralidade se expressa em uma obsessão pela virgindade. A obsessão pelo domínio sobre a sexualidade feminina não se limita ao islã, e é também evidente em outras religiões (por exemplo, entre os cristãos, judeus e hindus). No entanto, o desenvolvimento moderno dessas outras culturas religiosas não foi tão prejudicado quanto o dos muçulmanos. O valor atribuído à virgindade é grande a ponto de eclipsar as catástrofes humanas e os custos sociais resultantes.

As meninas muçulmanas costumam aprender que “uma garota com o hímen rompido é como um objeto usado”. E, uma vez usado, um objeto torna-se permanentemente imprestável. Uma moça que tenha perdido o “selo de não usada” não encontrará marido e estará condenada a terminar seus dias na casa dos pais. Além disso, quando o defloramento se dá fora do matrimônio, os familiares da moça estarão desonrados até o décimo grau de parentesco e serão motivos de comentários maldosos por parte das outras famílias. Dirão que a família é conhecida por suas mulheres promíscuas, que se entregam “ao primeiro homem que aparece”. Por isso, a moça é punida pela família. As punições vão desde insultos à expulsão ou ao confinamento, podendo chegar até mesmo a um casamento forçado com aquele que a deflorou ou com algum “homem generoso” disposto a encobrir a vergonha familiar. Estes podem ser muitas vezes pobres, débeis mentais, velhos, impotentes ou tudo isso ao mesmo tempo. Em casos extremos, a garota é assassinada, muitas vezes pela própria família. As Nações Unidas relatam que, a cada ano, 5 mil jovens são mortas por esse motivo, em países islâmicos, inclusive na Jordânia, citada com tanta frequência como um regime “liberal”.

Na tentativa de evitar esse destino cruel, as famílias muçulmanas fazem todo o possível para garantir que o hímen de suas filhas permaneça intacto até o casamento. Os métodos variam de acordo com o país, as circunstâncias específicas e os meios disponíveis. Mas, em toda parte, as medidas se dirigem às jovens dotadas de hímen e não os homens capazes de rompê-los.

Há pouco tempo, o porta voz do Ministério da Justiça da Turquia, o professor Dogan Soyasian, declarou que todos os homens desejam casar-se com uma virgem, e que aqueles que o negam seriam hipócritas. Ainda se aconselha às jovens estupradas a se casarem com seus agressores, com o argumento de que o tempo cura todas as feridas. A seu tempo, a mulher aprenderá a amar quem a estuprou, e a união poderá ser muito feliz. Porém, caso a mulher tenha sido violentada por vários homens, o casamento terá menor chance de sucesso, pois seu marido a verá como uma mulher desonrada.

No que se refere à sexualidade, a cultura islâmica vê os homens como feras terríveis, irresponsáveis e imprevisíveis, que perdem de imediato todo o autocontrole ao ver uma mulher. Isso me lembra uma experiência que tive ainda bastante jovem. Minha avó tinha um bode. Estávamos brincando na frente de casa quando, no fim da tarde, pouco antes de escurecer, todas as cabras da vizinhança voltavam para casa em uma longa procissão. Era uma visão encantadora. Mas logo que avistou as cabras, o bode de vovó galopou em sua direção e montou na primeira que conseguiu alcançar. A nós crianças, aquilo pareceu muito cruel. Quando perguntamos à vovó o que o bode estava fazendo, ela respondeu que aquilo não era problema dela: se os vizinhos não quisessem que suas cabras fossem montadas, deveriam leva-las para casa por outro caminho. O Islã representa seus homens como aquele bode; quando veem uma mulher descoberta, saltam imediatamente sobre ela.

(…)

Por essa razão, as meninas têm de se cobrir, tornando-se invisível. E por isso, sentem-se constantemente culpadas e envergonhadas, pois é quase impossível levar uma vida normal e ser invisível aos homens. As meninas sempre pensam que estão fazendo algo de errado. Têm cercada não apenas a sua liberdade externa de ir e vir, mas também a interna. Certa vez minha tia pôs uma peça de carneiro para secar ao sol. A carne atraiu fileiras de moscas. Titia disse: “Os homens são iguais a essas moscas e formigas: quando veem uma mulher, não conseguem conter o desejo”. Vi a gordura derreter ao sol, enquanto os insetos se fartavam. Restou um rastro de sujeira.

(…)

Tudo isso se torna uma profecia auto realizável; um homem muçulmano não tem por que aprender a se controlar. Ele não precisa e não é ensinado a fazê-lo. A moral sexual destina-se exclusivamente às mulheres, sempre culpadas por qualquer descuido.

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Sobre a autora: Ayaan Hirsi Ali é uma ex-muçulmana nascida na Somália que se tornou famosa ao publicar uma autobiografia intitulada Infiel- a história de uma mulher que desafiou o Islã. Também é autora de outros livros: A Virgem na Jaula e Nômade. Porém seu mais novo livro chama-se Herege – por que o Islã precisa de uma reforma imediata. Todos os seus livros são publicados no Brasil pela editora Companhia das Letras. Ayaan Hirsi Ali é a mais notória das pessoas que criticam o Islã e faz frequentes aparições na mídia em todo o mundo.

Herege – Por que o Islã precisa de uma reforma imediata

Excerto do livro Herege, de Ayaan Hirsi Ali.

Em _____, um grupo de _____ fortemente armados e vestidos de preto entrou em um _____ em _______ e matou a tiros _____ pessoas. Os atacantes foram filmados gritando “Allahu akbar!”. Em entrevista coletiva à imprensa, o presidente _____ disse:“Condenamos esse ato criminoso de extremistas. E sua tentativa de justificar seus atos violentos em nome de uma religião pacífica não terá êxito. Condenamos igualmente aqueles que queiram usar essa atrocidade como pretexto para crimes de ódio islamofóbicos”.

Enquanto revisava a introdução deste livro, quatro meses antes de sua publicação, eu naturalmente poderia ter escrito algo mais específico, por exemplo:

Em 7 de janeiro de 2015, dois atacantes fortemente armados e vestidos de preto entraram na redação do jornal satírico Charlie Hebdo em Paris e mataram a tiros dez pessoas. Os atacantes foram filmados gritando “Allahu akbar!”.

Mas, pensando bem, parece que não há razão para escolher Paris. Algumas semanas antes, eu poderia ter escrito o seguinte:

Em dezembro de 2014, um grupo de nove homens fortemente armados e vestidos de preto entrou em uma escola em Peshawar e matou a tiros 145 pessoas.

Na verdade, eu poderia ter escrito uma frase semelhante para me referir a uma infinidade de acontecimentos: em Ottawa, no Canadá, em Sidney, na Austrália, em Baga, na Nigéria… Por isso, decidi que o melhor seria deixar em branco o nome do lugar, o número de assassinos e o de vítimas. O leitor pode então preencher as lacunas com o caso mais recente que aparecer no noticiário. Ou, se preferir um exemplo mais histórico, pode tentar este:

Em setembro de 2001, um grupo de dezenove terroristas islâmicos lançou aviões sequestrados contra prédios em Nova York e Washington D.C., matando 2996 pessoas.

Faz mais de treze anos que venho defendendo um argumento simples em resposta a atos terroristas como esses. Afirmo que é tolice insistir, como fazem habitualmente nossos líderes, que os atos violentos dos islamitas radicais podem ser dissociados dos ideais religiosos que os inspiram. Temos de reconhecer que eles são movidos por uma ideologia política, uma ideologia com raízes no próprio islã, no livro santo do Alcorão e na vida e ensinamentos do profeta Maomé descritos no hadith.

 Deixo claro o meu ponto de vista nos termos mais simples possíveis: o islamismo não é uma religião pacífica.

Por expor a ideia de que a violência islâmica não tem raízes em condições sociais, econômicas ou políticas — e nem mesmo em erro teológico —, e sim nos textos fundamentais do próprio islamismo, fui tachada de intolerante e “islamofóbica”. Fui silenciada, execrada e humilhada. Fui considerada herege, não só por muçulmanos — para quem já sou uma apóstata —, mas também por alguns liberais do Ocidente, cujas sensibilidades multiculturais se melindram com esse tipo de pronunciamento “insensível”.

Minhas declarações taxativas sobre esse assunto suscitaram críticas tão veementes que parece que fui eu quem cometeu um ato de violência. Pois hoje parece ser crime falar a verdade sobre o islã. “Discurso de ódio” é o termo moderno para heresia. E no clima atual, qualquer coisa que faça os muçulmanos se sentirem incomodados é rotulada de “ódio”.

Nestas páginas pretendo fazer muita gente se sentir incomodada — não só muçulmanos, mas também os apologistas ocidentais do islã. Não farei isso desenhando charges. Pretendo questionar séculos de ortodoxia religiosa apresentando ideias e argumentos ue, tenho certeza, serão acusados de heréticos. Proponho aqui nada menos do que uma reforma muçulmana. Sem alterações fundamentais em alguns dos conceitos centrais do islã não resolveremos, a meu ver, o problema urgente e cada vez mais global da violência política perpetrada em nome da religião. Pretendo me expressar livremente, na esperança de que, em vez de tentarem sufocar a discussão, outros também venham a debater livremente comigo sobre o que precisa mudar na doutrina islâmica.

Um breve relato ilustrará aqui por que acredito que este livro é necessário. Em setembro de 2013, me senti lisonjeada porque o presidente da Universidade Brandeis, Frederick Lawrence, me telefonou oferecendo um diploma de doutora honoris causa em justiça social, que me seria entregue na cerimônia de colação de grau em maio de 2014. Tudo parecia ótimo até que, seis meses depois, recebi outro telefonema do presidente Lawrence, dessa vez para me informar que a Universidade Brandeis tinha revogado o convite. Fiquei pasma. Logo soube que uma petição on-line, organizada inicialmente pelo Conselho de Relações Islâmico-Americanas (Council on American Islamic Relations, Cair) e localizada no site change.org, fora posta em circulação por alguns estudantes e professores indignados por eu ter sido escolhida.

 Acusando-me de veicular “discurso de ódio”, a petição da change.org começava dizendo:

Foi um choque para nossa comunidade saber que Ayaan Hirsi Ali, em razão de suas convicções islamofóbicas extremistas, receberá um título de doutora honoris causa em justiça social neste ano. A escolha de Hirsi Ali para receber um título honorário é um menosprezo flagrante e desumano por parte da administração não só para com os estudantes muçulmanos, mas também para com qualquer estudante que já tenha sido vítima do puro discurso de ódio. É uma violação direta do código moral da própria Universidade Brandeis e dos direitos dos estudantes dessa universidade.

Em conclusão, os requerentes indagavam: “Como é que a administração de uma universidade que se orgulha de sua justiça social e aceitação de todos toma uma decisão que atinge e desrespeita seus próprios alunos?”. Minha indicação para receber o título honorário era “ofensiva para os estudantes muçulmanos e para a comunidade da Brandeis que defende a justiça social”. Nada menos que 87 docentes da Brandeis também tinham escrito para se dizerem “estarrecidos e consternados” com alguns breves trechos de minhas declarações públicas, a maioria extraída de entrevistas que eu dera sete anos antes. Disseram que eu era uma “pessoa divisiva”. Em particular, eu era culpada por sugerir que:

a violência contra meninas e mulheres é característica do islã ou dos dois terços subdesenvolvidos do mundo, por isso eclipsa o mesmo tipo de violência em nosso meio cometida por não muçulmanos, inclusive no nosso campus [e] […] o árduo trabalho local por dedicadas feministas muçulmanas e outros ativistas e acadêmicos muçulmanos progressistas, que encontram na tradição muçulmana o apoio à igualdade de gênero e de outras categorias de igualdade e são eficientes em promovê-la.

Analisei a lista de docentes signatários e me espantei com os estranhos companheiros de causa que eu inadvertidamente havia reunido. Professores de Estudos sobre a Mulher, Gênero e Sexualidade aliados ao Cair, uma entidade que logo depois entrou para a lista negra de organizações terroristas compilada pelos Emirados Árabes Unidos? Uma autoridade em Teoria da Narrativa Homossexual/ Feminista tomando o partido de islâmicos declaradamente homofóbicos?

É verdade que, em fevereiro de 2007, quando ainda morava na Holanda, eu disse ao Evening Standard: “A violência é inerente ao islã”. Essa foi uma das três citações breves e seletivamente editadas que os docentes da Brandeis desaprovaram. O que eles omitiram em sua carta era que, menos de três anos antes, meu colaborador em um documentário de curta-metragem, Theo van Gogh, fora assassinado em uma rua de Amsterdã por um jovem, filho de marroquinos, chamado Mohammed Bouyeri. Primeiro ele disparou oito tiros de revólver contra Theo. Depois tornou a atirar quando a vítima, aferrando-se à vida, lhe pediu misericórdia. Em seguida, o rapaz cortou-lhe a garganta, tentando decapitá-lo com um facão. Por im, com uma faca menor, ele fez um talho comprido no corpo de Theo.

Eu me pergunto quantos dos meus críticos naquela universidade terão lido esta carta, estruturada no estilo de uma fatwa, ou veredicto religioso. Ela começava assim: “Em nome de Alá — o Clemente — o Misericordioso”, e incluía, com numerosas citações do Alcorão, uma ameaça explícita à minha vida:

Meu Rabb [senhor] nos dá a morte para nos dar a felicidade no martírio. Allahumma Ameen [Ó Alá, por favor aceite]. A sra. Hirshi [sic] Ali e o resto de vocês, descrentes extremistas. O islã resistiu a muitos inimigos e perseguições ao longo da história. […] AYAAN HIRSI ALI, VOCÊ SE AUTO DESTRUIRÁ NO ISLÃ!

E ela prosseguia nesse tom raivoso.

 O islã será vitorioso pelo sangue dos mártires. Eles vão difundir sua luz por todos os cantos escuros da Terra, e ela mandará o mal com a espada se necessário de volta ao seu buraco escuro. […] Não haverá misericórdia para os provedores da injustiça, somente a espada se erguerá contra eles. Sem discussões, sem manifestações, sem petições.

A mensagem incluía ainda a seguinte passagem, copiada diretamente do Alcorão: “Sabei que a morte, da qual fugis, sem dúvida vos surpreenderá; logo retornareis ao Conhecedor do desconhecido e do conhecido, e Ele vos inteirará de tudo quanto tiverdes feito!” (62:8).*

Talvez aqueles que ascenderam às alturas rarefeitas do corpo docente da Brandeis sejam capazes de conceber um argumento para negar que existem ligações entre as ações de Bouyeri e o islã. Eu certamente me recordo de acadêmicos holandeses afirmando que, por trás do linguajar religioso, a verdadeira motivação de Bouyeri para me matar era a privação socioeconômica ou a alienação pós-moderna. Na minha opinião, porém, quando um assassino cita o Alcorão para justificar seu crime, devemos no mínimo discutir a possibilidade de ele estar falando sério.

Ora, quando afirmo que o islamismo não é uma religião pacífica, não estou dizendo que a crença islâmica torna os muçulmanos naturalmente violentos. Isso, manifestamente, não é verdade: há milhões e milhões de muçulmanos pacíficos no mundo. Estou dizendo que a conclamação à violência e a justificação dela estão explicitadas nos textos sagrados do islã. Além disso, essa violência teologicamente sancionada está ali para ser ativada por uma infinidade de ofensas, que incluem, entre outras, apostasia, adultério, blasfêmia e até algo tão vago quanto ameaças à honra familiar ou à honra do próprio islã.

Entretanto, desde o momento em que afirmei pela primeira vez que havia uma ligação inevitável entre a religião em que fui criada e a violência de organizações como a Al-Qaeda e o autointitulado Estado Islâmico (doravante EI, embora outros prefiram os acrônimos Isis ou Isil), deparei com um empenho contínuo para calar minha voz.

As ameaças de morte são, obviamente, a forma de intimidação mais preocupante. Mas também tem havido outros métodos, menos violentos. Organizações muçulmanas como o Cair tentam me impedir de falar livremente, em especial nas universidades. Alguns argumentam que, como não sou uma acadêmica especializada na religião islâmica, e nem mesmo uma muçulmana praticante, não tenho autoridade para me pronunciar sobre o assunto. Em outros lugares, muçulmanos escolhidos e liberais ocidentais acusam-me de “islamofobia”, palavra concebida para se equiparar a antissemitismo, homofobia ou outros preconceitos que as sociedades ocidentais aprenderam a abominar e condenar.

Por que essas pessoas são compelidas a me silenciar, a protestar contra minhas aparições em público, a estigmatizar minhas opiniões e me expulsar do palco com ameaças de violência e morte? Não é porque eu seja ignorante ou mal informada. Ao contrário: minhas opiniões sobre o islã fundamentam-se em meu conhecimento e experiência de ser muçulmana e viver em sociedades muçulmanas — inclusive em Meca, o centro da crença islâmica — e em meus anos de estudo do islamismo como praticante, estudante e professora. A verdadeira explicação é clara. É porque essas pessoas não podem realmente refutar o que digo. E não estou sozinha. Pouco depois do ataque ao Charlie Hebdo, Asra Nomani, uma reformista muçulmana, pronunciou-se sobre o que ela chama de “brigada de honra”: uma cabala internacional organizada, determinada a silenciar o debate sobre o islã.

É vergonhoso que essa campanha seja eficaz no Ocidente. Parece haver agora um conluio de liberais ocidentais contra o pensamento crítico e o debate. Fico estarrecida sempre que não muçulmanos que se consideram liberais — inclusive feministas e defensores dos direitos dos homossexuais — sejam tão facilmente persuadidos por esses meios grosseiros a tomar o partido do islã contra críticos muçulmanos e não muçulmanos.

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Sobre a autora: Ayaan Hirsi Ali é uma ex-muçulmana nascida na Somália que se tornou famosa ao publicar uma autobiografia intitulada Infiel- a história de uma mulher que desafiou o Islã. Também é autora de outros livros: A Virgem na Jaula e Nômade. Porém seu mais novo livro chama-se Herege – por que o Islã precisa de uma reforma imediata. Todos os seus livros são publicados no Brasil pela editora Companhia das Letras. Ayaan Hirsi Ali é a mais notória das pessoas que criticam o Islã e faz frequentes aparições na mídia em todo o mundo.

Como debater com muçulmanos – primeira parte.

Texto de Ibn Warraq.  Título original: How to debate with the muslims.

Tradução Khadija Kafir

Você sabe falar Aramaico ou hebraico?

Os muçulmanos em geral têm tendência de desarmar qualquer crítica ao Islam – e ao Alcorão em particular – perguntando se o crítico já leu o Alcorão em sua língua original Árabe, como se toda dificuldade de seu texto sagrado fosse desaparecer quando o leitor dominasse a língua sagrada e tivesse a experiência direta, áurea e visual, das palavras exatas de Deus, para com as quais nenhuma tradução pode fazer justiça.

Todavia, a maioria dos muçulmanos não é falante nativa do Árabe. Indonésia, por exemplo, com uma população de 197 milhões; Paquistão, com 133 milhões etc. Tudo isso já supera o número de falantes nativos do Árabe em cerca de 30 países no mundo, estimados em 150 milhões. Muitos muçulmanos educados cuja língua não é Árabe realmente a estudam só para conseguir ler o Alcorão. Mas deixe me afirmar de novo: a maioria não entende uma palavra do Árabe, mesmo que saibam de cor algumas partes do livro.

Em outras palavras, a maioria dos muçulmanos tem que ler o Alcorão com a ajuda de traduções para poder entender. Ao contrário do que se pensa, tem havido traduções para o Persa desde o século XI, e há traduções para o Turco e para o Urdu. O Alcorão tem sido traduzido para mais de cem idiomas, a maioria pelos próprios muçulmanos, apesar da desaprovação das autoridades religiosas.

Mesmo para os contemporâneos que falam Árabe, ler o Alcorão está muito longe de ser um assunto fácil e direto. O Alcorão é putativamente escrito naquilo que chamamos Árabe Clássico, mas a população árabe moderna (afora o problema do analfabetismo), não fala, não lê, nem escreve e muito menos pensa em Árabe Clássico. Ao invés disso, somos confrontados com o problema da “diglossia”, que é uma situação onde duas variedades da mesma língua existem lado a lado. As duas variedades são a “alta” e a “baixa”. O Árabe “alto” é às vezes chamado Árabe Literário Moderno ou Árabe Padrão, e é aprendido através da educação formal em escolas, do mesmo jeito que o Latim ou o Sânscrito. É usado em sermões, palestras de universidades, noticiários e para fins de mídia.

O Árabe “baixo” ou coloquial é um dialeto que os falantes nativos adotam como língua materna, e é usado em casa ao se conversar com a família e amigos; e também é usado nas novelas de televisão. Mas as diferenças entre os dois tipos são tão grandes que um fazendeiro analfabeto poderia entender no máximo uma palavrinha aqui e ali. Se alguém ajuntasse esses árabes em uma sala com pessoas que nunca falaram árabe clássico, um mal ia conseguir entender o outro.

Embora alguns estudiosos tolerem pequenas mudanças, eles pintam um quadro equívoco da situação linguística dos países modernos que falam Árabe. Estes estudiosos implicam que qualquer um que consiga ler um jornal na língua moderna não deveria ter nenhuma dificuldade com o Alcorão ou outro texto em Árabe Clássico. Eles parecem insensíveis à evolução da língua, às mudanças em seu uso, e o significado dos termos através do longo tempo e das áreas em que essa língua tem sido usada. Qualquer um que viva no oriente Médio nos anos recentes irá saber que a língua da imprensa é – na melhor hipótese – semiliterária, e certamente simplificada – pelo menos no que diz respeito á sua estrutura e vocabulário.

Poder-se-ia chamar de erro gramatical – se fosse considerado o ponto de vista do Árabe Clássico – a linguagem dos jornais diários ou televisão. Esta linguagem semiliterária não é genuína, e certamente, ninguém pensa nela. Para um árabe médio levaria muito esforço até para construir uma frase simples em Árabe Clássico, quanto mais conversar. O linguista Pierre Larcher tem escrito sobre a considerável lacuna entre o árabe medievo e o clássico moderno.

(…)

Larcher tem apontado que todas as vezes que se tem uma situação linguística onde duas variedades da mesma língua coexistam, ter-se-á também uma tendência ao hibridismo, o que leva aos linguistas cunharem o termo “triglossia”. Gustav Meiseles chega a falar em “quadriglossia”: entre o Árabe Literário e o vernáculo, ele distingue um sub-padrão de Árabe e um Árabe falado por pessoas mais educadas. Ainda outros falam em pluri, ou multi, ou poli glossia vistas como um expansionismo.

 O estilo do Alcorão é difícil e totalmente diferente da prosa de hoje, e ele seria praticamente incompreensível sem glossários, ou comentários inteiros. A conclusão é que mesmo os árabes mais educados precisam recorrer às traduções se quiserem tirar algum sentido dessa escritura tão alusiva e indescritível.

Se você for indagado agressivamente “sabe falar Árabe?” Então responda triunfante: “você tem que ler o Alcorão no Árabe Original para entendê-lo completamente”. Não muçulmanos e pensadores ocidentais, bem como ateus, são reduzidos ao silêncio com essa tática muçulmana. Tornam-se recatados e na defensiva quando se trata de criticar o Islam. Eles debilmente reclamam: “quem sou eu para criticar o Islam? Não sei Árabe”. E ainda assim eles se sentem felizes em criticar o Cristianismo. Quanto pensadores ocidentais e ateus sabem falar Hebraico? Quantos sabem em língua o livro de Esdras foi escrito? Ou em que língua o Novo Testamento foi escrito? Claro, os muçulmanos também são livres em sua crítica da Bíblia e do Cristianismo sem saber uma só palavra de Hebraico, Aramaico ou Grego.

Então deixe-me resumir: você não precisa saber Árabe para criticar o Islam ou o Alcorão. Paul Kurtz não sabe falar Árabe mas ele fez um bom trabalho sobre o Islam em seu livro The Transcedental Temptation. Você só precisa de senso crítico e ceticismo.

Em segundo lugar existem traduções do Alcorão que são feitas pelos próprios muçulmanos, então eles não podem reclamar que tradutores infiéis deliberadamente modificaram o texto.

Terceiro: a maioria dos muçulmanos não é árabe nem falante do Árabe. A maioria vai precisar de traduções.

E finalmente a linguagem do Alcorão é um tipo de Árabe Clássico que é totalmente diferente da forma falada de hoje, então até mesmos árabes precisam confiar nas traduções para entender seu texto sagrado. O Árabe é uma língua semita relacionada com o Hebraico e o Aramaico e não é fácil, mas também não é mais difícil de traduzir que qualquer outra língua. Claro que há dificuldades com sua linguagem, e isso já foi reconhecido pelos próprios estudiosos. É realmente um texto opaco, mas é opaco para qualquer um: nem os estudiosos muçulmanos entendem um quinto do que está escrito.

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ibn_warraq

Sobre o autor: Ibn Warraq é o pseudônimo de um ex-muçulmano nascido na Índia e criado no Paquistão e na Inglaterra. Famoso pelas suas críticas ao Alcorão e às sociedades islâmicas, Warraq também é fundador do Institute for the Secularisation of Islamic Society (ISIS) que é um instituto que promove a secularização dessas sociedades.

Sete camadas de céus.

Texto de Ali Sina. Artigo original: Seven Layers of Heavens.

Tradução: Khadija Kafir 15/06/2015

(…) Há sites islâmicos que falam assim:

As camadas da atmosfera.

atmospher1

Um fato sobre o universo revelado no Alcorão é que o céu é feito de sete camadas.

Alcorão 2:29: “Foi Ele quem criou para vós tudo o que existe na Terra; depois, subiu às alturas e formou os sete céus. Ele sabe de tudo”.

Alcorão 41: 12: “E em dois dias criou sete céus e determinou a cada um deles sua função”.      

A palavra “céu”, que aparece em muitos versos no Alcorão, é usada para se referir ao céu acima da Terra, bem como a todo o universo. Dado o significado da palavra, vê-se que o céu terreno, ou atmosfera, é feita de sete camadas.

A terra tem todos os atributos necessários para a vida. Um deles é a atmosfera, que serve de escudo protegendo as criaturas. Hoje é um fato estabelecido que a atmosfera é feita de diferentes camadas uma sobre a outra. E como descrito no Alcorão, a atmosfera é feita de exatamente sete camadas. Isto é certamente um dos milagres do livro. Nas fontes científicas, esse assunto é descrito assim:

1- Troposfera 2-Ozonosfera 3- Estratosfera 4-Mesosfera 5-Termosfera 6- Ionosfera 7- Exosfera.

atmosfera

Quatorze séculos atrás, quando se pensava que o céu era um corpo único, o Alcorão miraculosamente afirmou que ele consistia de camadas, e não só isso, mas afirmou serem sete tais camadas. A ciência moderna, por outro lado, descobriu esse fato apenas recentemente.

A verdade sobre as sete camadas.

A concepção pré-copérnica do universo era geocêntrica. Eles pensavam que a Terra era plana e localizada no centro do universo. Acreditavam que o sol e a lua – bem como Saturno, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio, que consistiam nos objetos do paraíso – eram deidades. Eram os únicos corpos celestes que podiam ser observados a olho nu se movendo no céu, enquanto as estrelas pareciam ser fixas.

terra fixa
A Terra é onde se lê “Earth”. O Sol é “Sun”; e a lua, “Moon”.   

Camadas do paraíso.

Eles acreditavam que estes planetas ou “deuses” tinham cada um sua própria esfera. Essas camadas não orbitavam ao redor do sol como nós sabemos, mas eles todos giravam ao redor da terra nessa ordem:

1- Lua    2- Mercúrio   3- Vênus      4-Sol     5- Marte       6- Júpiter   7- Saturno.

O mais próximo da Terra era a lua e o mais distante Saturno. Assim, o conceito de sete camadas de céu é baseado em astronomia arcaica, onde cada corpo celestial ocupava uma esfera de cristal uma sobre a outra como as camadas de uma cebola.

Tanto o Judaísmo quanto o Cristianismo fazem referências a essas camadas. Por exemplo, Dante em sua Divina Comédia, se refere a isso e o apóstolo Paulo em 2Cor 12:2 diz: “Conheço um homem em Cristo que, há quatorze anos, foi arrebatado ao terceiro céu- se em seu corpo, não sei: se fora do corpo não sei; Deus o sabe“.

O Paraíso era um mundo físico acima. O conceito de um céu espiritual é novo. Na mente do homem arcaico a distinção entre o céu físico e o céu espiritual era confusa. Por exemplo, a palavra “cielo” em Espanhol é usada tanto para o céu físico como para referir-se ao paraíso (como “céu” em Português).

Não somente o Céu tinha sete camadas, mas a Terra também tinha, e representava o submundo do Inferno. Dante, ao visitar as camadas mais profundas do Inferno, encontra dois homens com os corpos mutilados e conclui que eram Maomé e Ali. Ele descreve graficamente seu encontro com esses dois homens miseráveis:

Qual tonel, que aduelas perde ao fundo,
Estava um pecador, que roto eu via
Das faces ao lugar que é menos mundo.

As entranhas pendiam-lhe; trazia
Patentes os pulmões e o saco feio,
Onde o alimento de feição varia.

A contemplá-lo estava de horror cheio,
Eis me encara e me diz, abrindo o peito:
“Vê como eu tenho lacerado o seio!

Maomé sou, quase pedaços feito;
Antecede-me Ali, que se lamenta:
Do queixo à testa o rosto lhe é desfeito.

“Todos, que a dor aqui tanto atormenta,
De escândalos, de cismas inventores,
Pendidos têm, qual vês, pena cruenta.     (Canto XXVIII)

O número sete estava tão engrenado na mente dos antigos que podemos achá-lo em toda parte. Sete planetas (ou deuses) têm sido identificados e as fases da lua mudavam a cada sete dias. A Bíblia afirma que Deus descansou no sétimo dia após completar a criação. E cada sétimo ano era sabático e o Jubileu é o ano seguinte a uma “semana de semana” de anos.

Os pagãos dividiam sua semana em sete dias, cada um representando uma deidade:

  1. Sábado, que era o primeiro dia da semana (ainda é nos países islâmicos), era dedicado a Saturno. Em Inglês a palavra “Saturday” (sábado) lembra em Latim Saturni (Saturno).
  2. Em Inglês “Sunday” que lembra a palavra sun (sol) e era dedicado ao sol. (Latim Solis),
  3. Segunda-feira, em Inglês “Monday” que lembra a palavra “moon” (lua). Em Espanhol “lunes”. Dedicado à lua.
  4. Terça-feira. Em Francês “mardi”. Espanhol, “martes” que lembra em Latim Martis. Dedicado a Marte.
  5. Quarta-feira. Em Francês “mercredi”. Espanhol, “miércoles”. Dedicado a Mercúrio (Mercurii).
  6. Quinta-feira. Em Francês, “Jeudi”. Espanhol, “Jueves”. (Jovis).
  7. Sexta-feira. Francês, “vendredi”. Espanhol, “viernes” dedicado a Vênus (Veneris). [1]

Afora isso, vêm os sete arcanjos já conhecidos, que incluem Miguel, Gabriel, Rafael, Uriel, Sariel, Samuel e o anjo caído Lúcifer. O conceito pagão de sete camadas de céus rastejou até o Judaísmo e o número sete pode ser achado aí mais do que em qualquer outra religião. Por quê? Porque os textos judaicos (Midrash) ensinam: há sete camadas de céus, obviamente uma influência do paganismo no Judaísmo.

Quando Adão pecou, os Shekinah partiram para o primeiro céu. O pecado de Caim os forçou ao segundo céu. A geração de Enoque, ao terceiro. A geração do diluvio, ao quarto. A geração da dispersão, ao quinto. Os sodomitas, aos sexto. Os egípcios dos dias de Abraão, ao sétimo. (Bereishis Rabbah 19:7)”

De acordo com as escrituras judaicas, a criação levou sete dias. Naamã teve que se lavar sete vezes no Jordão para ser curado da lepra. Os israelitas tinham que marchar em volta de Jericó sete dias, durante sete vezes, no sétimo dia; e tinham que tirar o sétimo dia da semana para o descanso. Havia um candelabro de sete braços no Templo, etc. No último livro, Apocalipse, encontramos a menção a sete espíritos, sete candelabros, sete igrejas, sete selos, sete trombetas, sete vasos, sete trovões, sete pragas, sete montanhas e sete reis. O período da tribulação é de sete anos sendo o último da “semana de anos”.

Maomé não inventou o conceito de sete céus. Ele apenas o parodiou sem entender a origem pagã dessa ideia: “E decoramos o céu mais próximo com lâmpadas e protegemo-lo” (Alcorão 41 verso 12).

Este verso não tem nada a ver com as sete camadas da atmosfera, como reivindicaram charlatões tal Harun Yahya. Tem a ver com o conceito geocêntrico do Universo que era prevalecente na época de Maomé. Observe que de acordo com ele, as estrelas são lâmpadas afixadas no teto do céu mais próximo para adorno. Obviamente as estrelas não estão no mesmo plano onde está a lua, tampouco a lua e as estrelas estão na camada mais baixa da atmosfera da Terra. De fato, o conceito corânico de camadas do céu é tão em desacordo com as camadas da atmosfera que os sites islâmicos tentam dar um significado completamente místico ao verso e diz que o verso fala sobre um “paraíso místico” que a alma irá encontrar depois da morte:

A referência ao fato de que Deus criou os sete céus tem sido dada no Alcorão em réplica ao ceticismo mostrado pelos descrentes com relação à vida após a morte. Refere-se à vastidão de sua criação. Diz que Deus não criou apenas um céu, um universo, sete de tais céus, ou sete universos. Ao que parece, o gigantesco universo em que nós vivemos, esse cujas fronteiras são ainda ignoradas pelo homem, é apenas um desses céus (universos), há outros sete, sobre os quais nós – com todo nosso desenvolvimento científico – não sabemos nada a respeito. Certos versos do Alcorão claramente indicam que a gigantesca massa de espaço em nossa volta seja apenas um desses universos…”

E mencionam Maududi, o renomado especialista muçulmano e exegeta do Alcorão que diz:

“É difícil explicar precisamente o que significam esses sete céus. Em todas as épocas, o homem tentou com a ajuda da observação e especulação dar um conceito de ‘céu’ que se situa além e acima da terra. Como sabemos, os conceitos desenvolvidos têm mudado constantemente. Daí que seria impróprio amarrar o significado dessas palavras do Alcorão a qualquer um desses outros. O que podemos dizer é que, ou Alá dividiu o universo além da Terra em sete esferas distintas, ou que esta Terra está localizada naquela parte do universo que possui sete esferas diferentes”.

Maududi está basicamente dizendo que o claro Alcorão não é tão claro assim. Dos Hadith (especialmente os Hadith de Mi’raj), nós lemos que o primeiro céu é aquele mais próximo à Terra. Então a ordem começa da Terra e o céu mais alto é o sétimo.

Como se pode ver, os verdadeiros especialistas do Islam são incapazes de explicar o significado de sete céus mencionados no Alcorão e tentam dar significado exotérico. Se tivéssemos que crer que tais céus são uma alusão às sete camadas da atmosfera, então temos que presumir que as estrelas devem estar a não mais de onze quilômetros acima da Terra.

 Não apenas Maomé, como seus contemporâneos, acreditava que a Terra tivesse sete céus, mas ele também pensou que a Terra era feita de sete camadas também.

Alá é Ele quem criou sete firmamentos e a Terra em número similar...”

Neste verso, o número de terras não está em questão. Presume que todo mundo concorda que haja sete terras. A ênfase é no fato de que foi Alá o criador dessas sete terras. A razão para isso é que, assim como os sete céus, os antigos concordavam que havia sete camadas na Terra. Maomé só fazia afirmar o que era óbvio ao povo de seu tempo, mas absurdo para a ciência moderna.

Que sete terras são essas de que Maomé estava falando? Se houvesse sete continentes no planeta, os apologistas muçulmanos não hesitariam em reivindicar que o verso é um milagre. Mas não temos sete continentes. Maomé está falando sobre as camadas da Terra, as mesmas camadas que foram descritas no Inferno de Dante. Inúmeros Hadith deixam claro.

O apóstolo de Alá disse: “Quem quer que usurpe a terra de alguém injustamente, seu pescoço será cercado com ela nas profundezas das sete terras (no Dia da Ressurreição)”.

As profundezas das sete terras é uma alusão ao fundo do Inferno, onde Dante encontrou Maomé e Ali com seus corpos dilacerados. É interessante notar que ambos assaltaram e mataram pessoas inocentes, ou as exilou e usurpou sua propriedade injustamente. Fadak era uma linda vila com muitos jardins que Maomé usurpou dos judeus de Khaibar depois de aniquilá-los e dar a sua filha Fátima, esposa de Ali. Fico surpreso que Dante não tenha visto Fadak envolta no pescoço de Maomé e Ali quando os viu no Inferno. Não é uma prova de que a descrição que faziam do inferno também estava errada?

A descrição dessas sete terras é dada por Muhammad ibn ‘Abd Allah al-Kisa’i:

… Há sete terras. A primeira é chamada Ramaka, abaixo da qual fica o Vendo Estéril, que pode ser freado por nada menos que setenta mil anjos. Com este vento Deus destruiu o povo de Ad. Os habitantes de Ramaka são uma nação chamada Muwashshim, sobre quem fica o tormento eterno e castigo divino. A segunda Terra é chamada Khalada, em jazem os instrumentos de tortura para os habitantes do Inferno. Lá reside uma nação chamada Tamis, cujo alimento é a sua própria carne e cuja bebida é o seu próprio sangue. A terceira terra é chamada Arqa, em que habitam águias parecidas com mulas e com caudas semelhante a lanças. Em cada cauda há trezentos e sessenta espinhos venenosos. Se uma lança fosse colocada na face da terra, todo o universo se destruiria. Os seus habitantes são uma nação chamada Qais, que comem terra e bebem leite materno. A quarta terra é chamada Haraba, em que habitam as cobras do Inferno, que são tão grandes como montanhas. Cada serpente tem dentes afiados como palmeiras altas, e se elas atacassem a montanha mais alta com suas presas, ela seria nivelada à terra. Os habitantes desta terra, são uma nação chamada Jilla, e eles não têm olhos, mãos ou pés, mas têm asas como morcegos e morrem apenas em idade avançada. A quinta terra é chamada Maltham, em que as pedras de enxofre são penduradas em torno do pescoço dos infiéis. Quando o fogo se acende, o combustível é colocado em seu seio, e as chamas saltam para seus rostos, como ele disse: “O fogo cujo combustível são homens e pedras (02:24), e fogo deve cobrir os seus rostos (14:50). Os habitantes são uma nação chamada Hajla, que são numerosos e que comem uns aos outros. A sexta terra é chamada Sijjin. Estes são os registros das pessoas do Inferno, e as suas obras são vis, como ele disse: Em verdade o registro das ações dos ímpios é certamente Sijjin (83: 7). Aqui reside uma nação chamada Qatat, que é em forma de pássaros e adoram a Deus verdadeiramente. A sétima terra é chamada Ajiba e é a morada de Iblis. Lá reside uma nação chamada Khasum, que são pretos e curtos, com garras como leões. Para eles será dado o domínio sobre Gog e Magog, que serão destruídos por eles …”

Não é difícil ver que essas lendas são baboseira. São contos de fadas que até fazem rir as crianças de hoje.

E fica provado mais uma vez que o Alcorão está errado em quase todas suas assertivas. Apenas um erro é suficiente para demonstrar que Maomé não era um mensageiro de Deus, mas um mentiroso. Mostramos que há centenas de erros no Alcorão. Ainda assim, os muçulmanos ficam procurando desesperadamente por “milagres” para enganarem-se a si mesmos e acharem validade em sua crença.

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Sobre o autor: Ali Sina é o pseudônimo de um ex-muçulmano nascido no Irã, que atualmente mora no Canadá. É um dos críticos mais respeitáveis da religião islâmica e também um dos mais ferrenhos. Fundador do fórum FAITH FREEDOM INTERNATIONAL (http://www.faithfreedom.org), que ajuda ex-muçulmanos em todo o mundo, ALI SINA também é autor de várias obras, entre elas Understanding Muhammad (Para entender Maomé), com tradução em progresso.

O problema com a esquerda.

Para assistir ao vídeo a que a imagem se refere visite: http://www.exmuculmanos.com/?page_id=111

O seguinte é um trecho do artigo The problem with the left (O problema com a esquerda-2006) ondeAli Sina critica o comunismo pela sua cegueira em não ver os perigos do Islã.

Tradução khadija Kafir 12/06/2015

(…) O Marxismo não reconhece nacionalidade. De acordo com sua pervertida interpretação da história, todas as guerras são movidas por motivos econômicos e fomentada pelos capitalistas para vender armas. Esta é sua definição infantil para todos os conflitos humanos. De acordo com sua utopia, os proletariados do mundo todo têm um interesse em comum e não vão fazer guerra uns contra os outros. A História provou que isso está errado. Os soviéticos e os chineses estiveram em estado de guerra fria por décadas e também durante a primeira e segunda Guerra Mundial e os trabalhadores europeus também pegaram em armas uns contra os outros. Apesar da evidência de que o comunismo é um paradigma falho, os esquerdistas não podem desistir tão facilmente de seu dogma. Para eles, o esquerdismo é uma religião.

De acordo com essa religião, todos os pobres são bons e todos os ricos são maus; todas as pessoas de pele escura são oprimidas e todos os brancos são opressores; todas as culturas são igualmente boas, exceto a cultura ocidental que é exploradora. E, é claro, a moral é relativa: os valores do que é certo e errado precisam ser definidos. Tudo isso é dogma. Semelhante à crença em “jinns”, isto é falácia lógica e mistificação. As culturas não são iguais. Como é que uma cultura que subjuga as mulheres e castiga as minorias pode ser igual a uma que promove a igualdade de direitos e a liberdade de expressão? É idiotice dizer que todas as culturas são iguais. As culturas evoluem e outras evoluem menos. Algumas culturas não são realmente culturas, mas barbaridades. O relativismo cultural é portanto uma falácia.

 A esquerda falhou em se tornar atraente. As pessoas mostram pouco interesse na utopia marxista. Qual é o problema (na opinião esquerdista N.T.)? O problema é o Judaísmo, o Cristianismo, o Hinduísmo e o Budismo e virtualmente todas as religiões. Qual é a solução? Livrar-se de todas elas. Como? Destruindo tudo que elas apoiam, incluindo a moralidade. Desde modo, pode-se pavimentar o caminho para o Comunismo. O Islã é – todavia- a exceção. O Islã tem sido usado como um instrumento de domínio através da historia. Mirza Malkam Khan, um muçulmano reformista do século XIX costumava dizer: “diga aos muçulmanos que algo está no Alcorão e eles vão morrer por você”. Malkhan Khan era um armeno que se converteu ao Islã para usá-lo em sua agenda política. Você pode encontrar qualquer coisa no Alcorão para apoiar qualquer agenda, pois ele está cheio de assertivas contraditórias. Uma vez que as massas muçulmanas são ignorante de sua religião, eles podem ser levados a qualquer direcionamento. Os comunistas presumiram de maneira tola que poderiam se aproveitar da ignorância islâmica e sua propensão para a histeria em massa para usar em vantagem própria. Todavia o contrário sempre foi o caso. Foram sempre os muçulmanos que usaram os comunistas para chegar ao poder, e uma vez lá, se voltaram contra eles e cortaram sua garganta de modo literal e figurado.

 (…)

A sociedade pode viver sem religião, mas não pode viver sem moralidade. Nós não podemos jogar fora o bebê junto com a água da banheira. A tradição judaico-cristã fez muito mal, mas também fez muito bem. Ela deu a luz à maior civilização que a humanidade já conheceu. Não sejamos tendenciosos. A democracia tem trazido ao mundo este progresso nas duas últimas décadas, que não podia ter nascido em nenhuma outra cultura. Os muçulmanos não são capazes de acolhê-la mesmo nos dias de hoje.

Eu admito que a tradição judaico-cristã já está ultrapassada em utilidade. Mas o problema é que destruindo seu caráter, os liberais somente pavimentaram o caminho para a tomada Islâmica. Enquanto não tivermos uma alternativa para a fonte de moralidade, o dano causado por se livrar da religião irá ser pior do que qualquer benefício possível.

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Sobre o autor: Ali Sina é o pseudônimo de um ex-muçulmano nascido no Irã, que atualmente mora no Canadá. É um dos críticos mais respeitáveis da religião islâmica e também um dos mais ferrenhos. Fundador do fórum FAITH FREEDOM INTERNATIONAL (http://www.faithfreedom.org), que ajuda ex-muçulmanos em todo o mundo, ALI SINA também é autor de várias obras, entre elas Understanding Muhammad (Para entender Maomé), com tradução em progresso.

A superioridade dos valores ocidentais em oito minutos.

Texto de Ibn Warraq* (2011)

Tradução de Khadija Kafir (10/06/2015)

Em um debate público com Tariq Ramadan em Londres, em novembro de 2007, a mim foram concedidos oito minutos para argumentar a favor da superioridade dos valores ocidentais. Aqui vai minha defesa:

 As grandes ideias do Ocidente – racionalismo, auto criticismo, a busca desinteressada pela verdade, a separação entre Igreja e Estado, a força da lei e a igualdade de todos perante ela, a liberdade de consciência e expressão, os direitos humanos, a democracia liberal – tudo isso junto constitui uma grande conquista, certamente, para qualquer civilização. Este conjunto de princípios permanece o melhor e talvez a única maneira para que todas as pessoas – não importa a raça ou credo – vivam em liberdade e alcancem seu potencial. Os valores ocidentais- que são base para seu visível sucesso político, científico, econômico e cultural – são claramente superiores a quaisquer outros valores inventados pela humanidade. Quando tais valores foram adotados por outras sociedades, tais como a Japonesa ou a da Coreia do Sul, seus cidadãos hauriram benefícios.

A vida, a liberdade e a busca pela felicidade. Esta trilogia sucintamente define a atratividade e a superioridade da civilização ocidental. No Ocidente nós somos livres para pensar o que queremos, ler o que queremos, praticar nossa religião, viver como escolhemos. A liberdade está codificada nos direitos humanos, outra magnifica criação sua, mas também, creio, um bem universal. Os direitos humanos transcendem valores locais ou étnicos, conferindo igual dignidade para todos, independentemente do gênero, etnia, preferencia sexual, ou religião. Ao mesmo tempo, é no Ocidente que os direitos humanos são mais respeitados.

É no Ocidente que existe a emancipação das mulheres, e das minorias raciais e religiosas; dos gays e lésbicas que defendem seus direitos. A noção de liberdade e direitos humanos foi apresentada na aurora da civilização ocidental, os ideais pelo menos, mas têm sido usufruídos através de atos de supremo auto criticismo. Por causa dessa excepcional capacidade autocrítica, o Ocidente tomou a iniciativa em abolir a escravidão. O grito por liberdade não ecoou nem mesmo entre os negros da África, onde tribos africanas pegavam prisioneiros negros rivais para serem vendidos no Ocidente. Hoje, muitas outras culturas seguem os costumes e práticas que são uma violação expressa da Declaração de Direitos Humanos (1948). Em muitos países – principalmente nos que são islâmicos – você não é livre para ler o que quiser. Sob a Sharia, ou lei islâmica, as mulheres não são livres para casar com quem elas quiserem, e seus direitos de herança são reduzidos. A Sharia deriva do Alcorão e das práticas e ditos de Maomé, e prescreve punições bárbaras tais como apedrejamento por adultério. Ela diz que homossexuais e apóstatas sejam executados. Na Arábia Saudita, entre outros países, os muçulmanos não são livres para se converterem ao Cristianismo e os cristãos não são livres para praticarem a sua fé. O Corão não é um documento que respeita direitos.

Sob o Islam, a vida é um livro fechado. Tudo já foi decidido para você: as ditaduras da Sharia e os caprichos de Alá traçam severos limites da possível agenda de sua vida. No Ocidente, nós temos a escolha de ir em busca de nossos sonhos e ambições. Somos livres enquanto indivíduos para estabelecer nossas metas e determinar o que vai preencher nossa vida e que sentido dar a ela. Como Roger Scruton sublinha: “a glória do Ocidente é que a vida é um livro aberto”. O Ocidente nos tem dado o milagre dos direitos individuais, a responsabilidade e o mérito, ao invés das cadeias do status herdado e oferece a mobilidade social sem paralelos. “O Ocidente” – escreve Alan Kors – “é a sociedade das vidas mais produtivas, mais auto definidas, e mais satisfatórias”.

Ao invés das certezas mentalmente entorpecentes e dos ditames do Islam, a civilização ocidental oferece o que Bertrand Russel chamava de dúvida libertadora. Até mesmo o processo da política no Ocidente envolve julgamento e erro, discussão aberta, criticismo e auto correção. A busca pelo conhecimento não importa aonde leve, um desejo herdado dos gregos, tem produzido uma instituição raramente igualada: a universidade. E o mundo lá fora reconhece a superioridade das universidades ocidentais. Os orientais vêm ao Ocidente para aprender – não somente a ciência que progrediu nos últimos quinhentos anos, mas também a própria cultura, o Oriente e as línguas. Eles vêm a Oxford e Cambridge, a Harvard e a Yale, a Heidelberg e a Sorbonne para adquirir seus doutorados, pois esses graus acadêmicos conferem prestígio sem rivalidades no Terceiro Mundo.

As Universidades ocidentais, os institutos de pesquisa e as bibliotecas são criadas para serem instituições independentes, onde a busca pela verdade é conduzida por um espírito de inquérito, livre de pressões políticas. A diferença básica entre o Ocidente e o “Resto” do mundo pode ser resumida pela diferença em princípios epistemológicos. Atrás do sucesso dessa sociedade, com sua ciência e tecnologia, e suas instituições abertas, jaz um distinto modo de contemplar o mundo, interpretá-lo e corrigir seus problemas: tirando-os da esfera religiosa e os considerando empiricamente, encontrando soluções com procedimentos racionais. Todo o corpo da ciência moderna é um dos maiores presentes do Ocidente para o mundo. O Ocidente é responsável por quase toda descoberta científica dos últimos quinhentos anos, do Heliocentrismo ao telescópio, da eletricidade aos computadores.

O Ocidente deu ao mundo a sinfonia e o romance. Uma cultura que engendrou o espírito criativo de Mozart e Beethoven; Wagner e Schubert; Rafael e Michelangelo; Leonardo da Vinci e Rembrandt não precisa de lições em espiritualidade vindas de sociedades cuja visão do céu se assemelha a um puteiro cósmico abastecido com virgens para os prazeres dos homens.

O Ocidente nos deu a Cruz Vermelha, os Médicos Sem Fronteiras, a “Human Rights Watch”, a Anistia Internacional e as muitas outras manifestações de impulso humanitário. É o Ocidente que providencia a maior parte da ajuda humanitária à sitiada Darfur (Suldão- África), enquanto que os países islâmicos são conspícuos pela sua ausência.

O Ocidente não precisa de palestras sobre as virtudes de sociedades onde as mulheres são mantidas em sujeição, aguentam a mutilação genital, são obrigadas a casar contra a vontade na idade de nove anos, têm ácido jogado no rosto ou são apedrejadas até a morte por alegado adultério ou onde os direitos humanos são negados aos que pertencem a uma casta inferior. O Ocidente não precisa de homilias hipócritas de sociedades que não são nem capazes de providenciar água limpa ou rede de esgoto para as suas populações, que não conseguem educar seus cidadãos, mas deixa que 40% ou 50% fiquem analfabetos, que não traz melhorias para os deficientes, que não têm noção de bem comum ou responsabilidade civil e que estão crivados pela corrupção.

Nenhum político ocidental se safaria se praticasse o tipo de observações racistas que são toleradas no Terceiro Mundo, tais como as diatribes antissemitas do líder malaio Mahathir Mohamad. Ao invés disso, houve pedidos de resignação tanto por parte dos líderes do Terceiro Mundo quanto da mídia ocidental. Dois pesos e duas medidas? Sim, mas também um tácito reconhecimento de que nós esperamos um padrão moral superior do Ocidente.

O Aiatolá Khomeini uma vez disse a célebre frase: “Não há diversão no Islam”. O ocidente é capaz de olhar paras suas próprias manias e rir, e até fazer piada de seus princípios fundamentais. Não existe um equivalente islâmico para o filme “A Vida de Brian” (1979). Será que podemos esperar que no futuro tenhamos A vida de “Maomerda”?

O resto do mundo reconhece as virtudes do Ocidente por meios concretos. Como Arthur Schlesinger salienta: “quando os chineses clamaram por democracia na praça Tianamen, trouxeram com eles não estátuas de Confúcio ou de Buda, mas um modelo da estátua da Liberdade. Milhões de pessoas arriscam suas vidas tentando chegar ao Ocidente – não à Arábia Saudita ou ao irã ou ao Paquistão. Eles fogem de regimes totalitários e teocráticos para encontrarem a tolerância e a liberdade no Ocidente, onde a vida é um livro aberto.

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* Este artigo constitui a primeira parte do livro “Why the West is the Best” (Porque o Ocidente é melhor), sem tradução em Português.

ibn_warraq

Sobre o autor: Ibn Warraq é o pseudônimo de um ex-muçulmano nascido na Índia e criado no Paquistão e na Inglaterra. Famoso pelas suas críticas ao Alcorão e às sociedades islâmicas, Warraq também é fundador do Institute for the Secularisation of Islamic Society (ISIS) que é um instituto que promove a secularização dessas sociedades.